A oposição ao governo no Congresso Nacional deu início a uma articulação intensa contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O movimento, descrito por parlamentares como uma "operação de guerra", tem como foco as revelações recentes envolvendo o Banco Master e supostas ligações do ministro com a instituição, que foi liquidada extrajudicialmente pelo Banco Central (BC) em novembro.
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) anunciou que buscará, logo após o retorno do recesso parlamentar, as assinaturas necessárias para a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O objetivo é apurar dois eixos principais: a denúncia de que Moraes teria pressionado o presidente do BC, Gabriel Galípolo, em favor do banco, e o contrato de prestação de serviços jurídicos firmado pelo escritório da esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, com a instituição financeira.
O que pesa contra o ministro
Reportagens recentes trouxeram à tona que Alexandre de Moraes teria procurado Gabriel Galípolo em quatro ocasiões para tratar da situação do Banco Master. Segundo as apurações, o ministro teria intercedido em favor de Daniel Vorcaro, controlador do banco, alegando que a instituição sofria perseguição por incomodar grandes concorrentes.
Além da suposta interferência política, a oposição questiona um contrato de R$ 129 milhões assinado entre o Banco Master e o escritório Barci de Moraes Associados, pertencente à esposa do ministro. Embora o contrato tenha sido interrompido pela liquidação do banco, os valores e a natureza do acordo — focado em demandas nos tribunais superiores — levantaram suspeitas de conflito de interesses.
"Vamos esperar a volta do recesso para providenciar [a CPI]", afirmou Vieira. O senador classificou a suposta atuação direta do ministro junto ao BC como "incompatível com a magistratura".
Entenda o Caso Banco Master
O Banco Master foi alvo da Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal, que investiga fraudes bilionárias no mercado de crédito. A instituição é acusada de emitir títulos sem lastro e maquiar balanços financeiros.
18 de novembro: O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Master.
Prisões: Daniel Vorcaro e outros executivos foram presos. Vorcaro foi liberado dias depois, mediante uso de tornozeleira eletrônica.
Investigação no STF: O inquérito foi remetido ao Supremo e está sob relatoria do ministro Dias Toffoli, que decretou sigilo sobre o caso e restringiu o acesso de uma CPMI anterior aos dados de Vorcaro.
Reações e Defesa
Até o momento, Alexandre de Moraes e o Banco Central não emitiram notas oficiais comentando o teor das conversas. Nos bastidores, Galípolo teria confirmado a interlocutores a existência dos diálogos, mas negado ter cedido a qualquer tipo de pressão, reiterando que a decisão técnica pela liquidação do banco foi mantida.
Enquanto a oposição fala em impeachment e uso da CPI para desgastar Moraes, aliados do ministro no STF saíram em sua defesa. O decano Gilmar Mendes declarou ter "absoluta confiança" em Moraes e minimizou as acusações, afirmando que a intervenção do BC no banco prova que as instituições estão funcionando sem interferências indevidas.
A expectativa em Brasília é que o tema domine a pauta do Judiciário e do Legislativo na reabertura dos trabalhos em 2026, testando a força política do STF frente a um Congresso cada vez mais combativo.